01- Coisas Que as Palavras Tentam Dizer
EXPRESSÃO NUMÉRICA
Quatro vezes te olhei
Duas vezes em meus sonhos
Duas vezes nos teus sonhos.
Duas vezes te encontrei
Uma vez quando choravas
Uma vez quando sorrias.
Quatro vezes te toquei
Duas vezes com meus olhos
Duas vezes com as mãos
Duas vezes te amei
Uma vez com um sorriso
Uma vez com uma canção.
Quatro vezes te jurei
Duas vezes pelo céu
Duas vezes pelo sol
Duas vezes te magoei
Uma vez quando falei
Uma vez quando calei.
Quatro vezes fui feliz
Duas vezes quando te vi
Duas vezes quando te quis
Duas vezes eu chorei
Uma vez ao te beijar
Uma vez ao te amar.
Uma vez eu fui ao céu,
Quando te possui pela primeira vez
Uma vez me entreguei
Quando te encontrei
Duas vezes me arrependi,
Quando te magoei
Quando te perdi
Três vezes quis voltar
Quando te revi
Quando saudades senti
Quando só, me descobri
Quatro vezes te chamei
Todas elas quando a solidão me furtava o sono
E O coração se punha a desejar-te.
Só mais uma vez quero ser feliz...
Então volta!
Pela ultima vez!
AMOR DE MADRUGADA
Acordei-me com a canção das águas...
Era a chuva, que em rítmo suave e alternado compasso, sobre a regência do maestro vento entrava atrevidamente em forma de uma névoa gélida que me envolvia o corpo despido.
A janela aberta movida pelo vento batia alternadamente em uma ritmicidade toda peculiar. Meu coração Em festa descompassado se emocionava com a fenomenal orquestra, em quanto eu, confuso e sem direção contemplava surpreso a grande festa da natureza.
O vendaval passara...
Agora a brisa soprava com suavidade, a chuva também havia ido embora, deixando no ar um fecundo hálito de unidade.
A madrugada silenciosa cantava uma canção em tom maior, com ímpar intensidade!
O tom profundo da voz do universo cantando em silêncio, me traz recordações dóceis e uma viva impressão de que o amor me cerca.
Levanto nú e ando a pé descalço, respiro fundo enchendo-me de ar, puro e lavado pela chuva, fecho a Janela e volto ao nosso ninho...
Ali te encontro nua e adormecida com a felicidade a estampar lhe o rosto, a pele fria, pelo o abraço da brisa, o quadril semi-descoberto...
Inspira e excita, sou presa fácil do desejo que me possui
Cheio de fome e me enchendo de amor busco o teu colo para me saciar, me deleitando em teu corpo saboroso...
Estou a um passo do transbordar...
Os seus afagos me devoram todo e em ti eu me perco totalmente...
Assim, penetrado um no outro não somos mais que um num mesmo abraço!!!
O frio de outrora dá lugar ao fogo, que abrasador, envolve e nos consome.
Lentamente vou me derretendo e adentrando o teu ser inteiro possuindo-te e sendo possuído.
Bem acolhido e plenamente alimentado, me aconchego no céu de sua boca e em seu caloroso abraço envolvo-me, onde amando e sendo amado adormecemos em plena harmonia e singular felicidade.
NO CUME
Sempre gostei de montanhismo
E, sinto que no cume revelo...
Revelo o mais fundo do meu eu...
Pois no cume sinto-me vivo...
As emoções no cume transbordam...
Quando o vento no cume bate...
O cheiro intenso exala...
Cheiro de vida em transformação...
Quando o vento no cume bate...
A montanha se refresca e estremece...
Quando o vento no cume bate...
Todo o meu corpo se arrepia...
É o vigor do vento no cume batendo
E me fazendo descobrir maravilhas
Dessa vida, que vivemos
Com tanto medo e preconceito...
No cume enfio-me todo ereto e vibrante
Sem medo de gozar as emoções independentes
Do aperto e das dores que no cume pode acontecer.
Viver é um grande risco, mas quando estou no cume
Sinto-me realizado; um verdadeiro aventureiro
Nunca foge ao desafio que na planície ou na montanha,
Que em cima ou embaixo, no cume me realizo.
Kiko di Faria
NO PRECIPÍCIO
Sempre amei a depressão...
...A minha paixão precipitada.
... A minha alma em relevo.
... Feito a águia em vôos profundos.
... Em rios de cachoeiras...
...Me lanço ao precipício,
... Como fogo em erupção,
... Abrasando todo o ser.
... Minha solidão rejuvenesce.
... O precipício se abre e me penetra.
... Minha solidão rejuvenesce.
... O frenesi tornado explosão.
É a brasa do precipício queimando
E me transformando em relevo
Que é o solo eclodindo
... Com tanta dor e sofrimento.
No precipício adentro firme e pulsante
Sem medo de ejacular as paixões autônomas
Do desconserto e saliências que no precipício pode surgir.
Viver é etcetera, porém quando encasulo-me no precipício
Sinto-me completado; um inteiro alpinista
Nunca evita o perigo que na depressão ou no pico,
Que no meio ou na borda, no precipício me completo.
Di Salles
Vida Morte Sina
Dela um dia nascestes nela se fizestes, sempre a amaste nunca a possuístes
Sempre a cultivastes com amor singelo, sempre lhe negaram o pouco que exigistes
Jamais a deixaste mesmo quando ausente, eras ela em ti como és neste dia
Fê-la pão e vinho, sonho e oração, fê-la seu quinhão, sua utopia
De quanto chão precisa o homem? De quanto chão precisa o homem?
Se desfigurastes calos se fizestes, vivendo de sonhos a si consumistes
Passastes a vida por ela e sem ela, nú viestes a vida nú dela saístes
Tú que no cultivo do torrão amado, nunca teve parte nesse latifúndio
Agora repousas em suas brechas frias, mas quando finda a vida é invalor o mundo
De quanto chão precisa o homem? De quanto chão precisa o homem?
Com suor e pranto sempre a regastes, pra incônsio ganhar meio ode sombria
Com a tua vida retornando ao pó, alcanças assim a terra que querias
Essa cova inglori não lhe faz justiça, morto já não sonhas, morto já não lutas
A terra que amastes e nunca possuístes, agora a possuis de modo tão triste
De quanto chão precisa o homem? De quanto chão precisa o homem?
LONGE
Aqueles olhos negros, subpostos àquelas sobrancelhas densas e negras como a noite... Exalando saudade, lacrimejavam, ante a sua presença, que lentamente se exauria.
Aprisionada agora, dentro de mim... Amo ti interiormente e me deleito em caricias solitárias. Contudo sua física ausência castiga-me os sentidos e por isso meus olhos choram.
...Estou apaixonado... Minado ante tua beleza... Prostrado e subjugado, pelos encantos do teu ser...
Expectante aguardo ansioso o nosso reencontro...
VIOLENTO
A violência é:
A arma dos fracos
Dos covardes e ignorantes...
Será ela inerente à condição humana
ou será um construto cultural...
Inaceitável em qualquer circunstância
Evidencia o caráter, daqueles que a praticam.
O AMOR
O amor é a canção sem som
Multissonora de arranjo bom
Simples feito passar batom
Saboroso tal qual bombom
O amor é a canção cantada
Poesia mil vezes recitada
Amada e vituperada
Porem jamais desprezada
O amor é a canção sideral
Nexo do físico e o transcendental
De eterno que se faz casual
É verso e reverso afinal.
NEGRITUDE
O negro [...]
De negro semblante a viver [...]
O branco [...]
Insensível em seu negro ser [...]
O branco temendo o seu branco ser negro
O negro, ser branco
Ser gente
Ser, ser [...]
Ser negro ser branco importa si ser.
Os olhos dão conta
Da cor que o sol dá [...] mas dentro de si
Sem olhos sem sol [...]
Todo ser é negro
Todo ser negro é ser...
SONETO???
Padeço pensando em ti
Que em porto velho está
A saudade dói ao lembrar
Sinto não te-la aqui
Jovem amiga Poliana
Como marca teu sorriso
Arma de fazer amigos
Encanto que almas inflamam
Linda diva flutuante
Entre o rosa e o azul
Tem um ser multitonante
Posso dizer sem pudor
Poliana nobre plebéia
Tens encantante fulgor
ABIGAIL
Raio nascente do sol
Colorindo e aquecendo
Alegria vens trazendo
Da aurora ao arrebol
Filha prima de meu ser
Cuidados da minha vida
Doce paixão incontida
Criança meu bem querer
Síntese dos sonhos meus
Abigail meu bebê
Doce dádiva de Deus
Amor que posso tocar
Preciosidade minha
Encanta e faz pensar
DESENCONTROS
Meu amor, nesse momento estou sozinho!
A saudade invadiu meu coração
Fecho os olhos e imagino seus carinhos
Sinto o gosto do teu beijo e o toque da tua mão...
Do sofá ouço o relógio na parede e os segundos que demoram por demais.
Os meus olhos te procuram pela casa
O ar traz o seu perfume e o meu peito pede mais...
Mais uma noite com você!
Um baile, um sonho, uma canção
Felicidade outra vez, pra que viver de solidão
Mais uma vida com você
Pra ser feliz mais uma vez
Fazer amor, viver amor, sem medo
Sem culpa ou dor... Como da primeira vez.
Nosso amor é como as estações do ano
Pode passar, mas sempre volta novamente
O erro é nosso, cometemos um engano.
Mas errar é humano; comecemos conscientes...
Do passado tiramos só a lição...
Pois quem ama não pode ficar sozinho
Sei fui falto e hoje te peço teu perdão
Volta pro meu coração.
Vamos ficar bem juntinhos... “Mais uma vez...
FUEM BUÉ
Quisera, no instante da dor
No colo do cansaço
No abraço da fadiga
No acaso da vitalidade
Ébrio de sono e de sonho...
Perceber no pranto dos anjos
A poesia que dele emana
Apreciar a melodia vital
Que explicíta a vida perene
Quisera ser mais...
Animal, ser humano
Simples racional
Que na perfeita
Imperfeição de cada instante
Se exaspera e se mostra...
Frágil...
Sensível, incapaz de degustar,
Com apreço e doçura
A pueril melodia
Da canção... Bué
Fuem, bué, fuêm...
Ó vida voraz, que se
Mostra selvagem e bravia
Num simples soluçar labial.
NEGROS
Negros são almas
Negros são gente
Negro é o povo
Que sente na carne
A dor e peso
Do sonho e da busca
De seus ancestrais
Negros são povos
Que miscigenados
São multitonantes
De cútis diversa
Marcados na essência
De seu negro ser
São homens são gente
São filhos de Deus.
CÉUS
Céus...
Céus de melaço
Doce céu
Céu de chapada
Veadeiros prostrada no chão
Te chupa te come
Com as retinas decaídas
Açoitado pela chibata da saudade
Adoçam seus dias chapadeiros
Com o doce celeste na terra.
VALES
Vale...
Vale que te quero meu
Vale do sonho e do encanto
Vale do amor tenro e do pranto
Vale do negro fugido
Vale de gado e de mungido
Vale que vale uma vida
Vida... Que tu vales???
Vales, numa única vez,
Do mirante mirar... Belo vale!!!
CANTINHO
Canto de ave e de bicho
Excêntrico, caudaloso, piscoso
Avassalante capricho da natureza
Distante só sei sonhar-te
Presente não sei conter-me
Olhando-te me divido em oposto
Que te ama te quer compreender
Que te teme e se vê compreendido
Cantinho em discreto curso
Cachoeira em eterno cair
Que será das almas ingênuas
Que padecem sem uma lembrança
De teus ecos?
NOITES
Noites vindouras...
Tenebrosas aos vitimados na vida,
No afeto, no teto, na lida
Na alma, na carne, na calma
Noites de céus risonhos, em
Ocasos pluritonais... Azuis, amarelos, fogosos, cinzentos, maestrais
Tristes entardecer
Doce entardecer
Na tarde da vida, verei
E com lágrimas, então pagarei
O preço de não mais contemplar
Eh... Oh... Por do sol...!!!
SERRA... ADO
Serra... Serra cerrado adorado
Serra... E deixa o suor do seu rosto
Gerar esse rio esse poço essa queda esse olho d’agua
Serra... Serra cerrado adorado
Serra... Em toca em erva em rocha
Casebre choupana e palhoça em canto de ave e de fera
Murmúrio de vento e de...
Serra.
Serra... Que amar amante em ti
Cerrado... Amante amor em mim
Serra... Cerrado adorado
Um sonho um chão... Algo assim.
I
...essas encostas
Úmidas e bravias me falam...
Me falam num linguajar comum
Sem sons e sem palavras
Da eternidade buscada por cada um
Me falam da solidão selvagem que arde
Com suas historias e sonhos em cada relevo em cada fissura
Sim! Não sabiam que as pedras sonham?
Sonham!
Sonham tanto quanto nós
Que não as somos e nem as compreendemos
E esse rio a cair nesse balé de menino levado em que vive?
E cai! Encantando parindo esse mundo de poço
Que lava e faz leve
O velho peito do moço...
II
É um doce profano
Um sagrado vulgar
Um liquido libidinoso
Doce indecente
Rasgando o peito da gente
Lavando esse pó
Que impregnado não me deixa..
Não me deixe esquecer o que sou
Sem se quer eu saber o que eu seja
Essa água maliciosa
Que jorra das brechas de terra
E com seu doce escraviza o vivente.
III
É um rio descendo
Ou um poço subindo?
São as pedras gemendo
Ou mato sorrindo?
É um canto bravio...
De poço e de pedra
De bicho de mato
De gente...
E, de rio!
IV
Essa arte da terra
De cera de serra
De pau e de pó
De cheiro e de cor
De toque e sabor
É um pau sobre o chão
De chapéu sob o peito
Descalço e pelado
À sombra da vida.
V
Essa pedra é minha mãe
Esse rio sou eu
Esse tronco caído
Esse salão proibido...
... Panteão dos ratos alados!
Essa paisagem crua
Fermentada no ventre da serra...
É ela a mãe da discrição!
O ninho dos segredos
O berço da inquietante paz.
VI
Menina pelada
Sem cílios nem sobrancelha
Exposta ao céu
Chorando ao mendigar o abraço do vento
O lamento doa pássaros...
Alva como a neve
Se aqui não neva como em Paris...
Se eleva feliz
A esbanjar-se num pendão verde
Nívea menina.
VII
Essa rosa alada pintando a imensidão
É a poeira do céu
Cavalgando os últimos raios
Que por esmola o sol nos manda
É assim...
Que nasce esse céu profundo
Misto de terra e de mel
Encanto que aprisiona o olhar...
O divino sem regra e sem véu.
VIII
Ao ver a solidão em seus olhos
Fito esse jeito mateiro...
Que é teu
Teus abanos
Te levando a planar
Teu escopo... a vida!
Teu morar por um instante vadio
De um graveto a bailar no vazio.
IX
Vestindo veludo
No talo e na folha
Esbanjas as cores com que o rei te brindou
Garganta aos berros
Oferta tua língua rosada
A verter uma muda e provocante poesia
Que faz da abelha ao colibri
Hospede do teu néctar.
X
Eis a cor da paixão
Eis um céu apaixonado
Um orgasmo
De olhos calados
Que pulsam ao sabor do teus tons.
XII
Esse meu pé
Exposto
Em pedra
Em lama
Em toco
Em cachoeira cantando
O verde das matas ciliares
O amarelo do rei em céu desnudo
É pé...
É pedra...
É serra...
É água...
É só pé de serra!
XIII
Se um dia eu pudesse ser
Mais que esse simples ser
Queria ser assim
Como tu borboletinha
A botar minhas esperanças
Na natureza palpável...
Nesse cerrado
Quente multicolorido
Vestindo flores
Parindo frutos
Salivando vida
Enfeitando o luto das noites
Pintadas de prata pela lua
Quisera eu
Ser...
E ao menos brevemente
Poder ter
Um fio de teu encanto borboletar.
XIV
Se possível for
De algum modo encontrar
O belo no colo do feio
Chamar te ia monstro
Monstro a vicejar
Uma beleza bruta
Intensa e tão serena capaz de perturbar
Assim se faz
Abelha amarela de olhos arregalados
E língua exposta a ofertar seu suco.
XV
Aqui vou eu
Em passo de lesma
Comendo migalhas
Sonhando com o céu
Que o criador aprisionou em meu futuro...
... em meu casulo!
Mas eu chego lá!
E quando eu chegar
Serei mais que sou
Com mais encanto mais fulgor
Serei sempre eu...
Mas como prêmio ganharei
Mais carinho
Mais amor
E...
Enfim o céu.
XVI
Dama das tocas
De capacete reluzente
E armadura em escamas
Em seus olhos o veneno
Ou seria o mel?
Ao ver te me parto
Bipartido não sou mais
Que verdugo e amante.
XVII
Sou eu esse ai...
Consegues ver me?
E a ti em mim e ao meu lado?
Somos nós!
A nos lavarmos nesse mar celestial.
XVIII
A lisonja dos teus lábios
É o tormento dos meus olhos...
Quero beijar-te com avidez
E beber a luxuria em tua boca
Seu louro manhoso
De dama do cerrado
É a malícia
Que malha meu peito
Gestando por ti dentro em mim
O mais enganoso amor...
Amor que será lágrima
Quando prantearei teu fenecer.
XIX
Como água pisando em cinzas
Quando em fumo o vapor faz subir
Faz do céu formigueiro
Um espanto!
E as formigas parar e sorrir
Sou assim
Sob o relho do teu encanto
Formiguinha a vibrar ao te ver
Somos nós
Tão vulgares e sensíveis
Ou és tu
Céu lindo de morrer?
XX
Sem teto não posso ser
Tenho o cosmos pra morar
A terra dos homens cansada
O parco pão a me dar
A sombra
De um pau sem encanto
Desse cerrado marginal
Vitimado pelo lucro
Que em seu sulco se faz
Capital
Mas,
Graças a quem assim me quis
Não sou triste e nem feliz
Sou um misto de riso e pranto
Só tenho um ninho...
...e meu canto...
XXI
Meus dias são isso que vês
Pele rasgada em rugas,
E vida sangrando delas!
Tal qual águas no seio das grotas
Dessa chapada imortal.
... Um pingo de vaidade,
Pra ornar meu corpo frágil
E marcar a alegria própria
De minh’alma negra...
Meus lábios murchos... São rosa
Fenecidas nos braços do tempo...
Contudo não se engane, moço!
Sou vida voraz aqui dentro.
XXII
Não faço o que faço
A mendigar recompensa
Elogio o xingo...
Não faço o que faço
Por que achas belo
Ou ele acha feio...
As palavras são meu sangue...
Minh’alma minha essência
Chame-me poeta, louco...
Como queira...
Não faço o que faço
A calcar recompensa!
Minha recompensa é o próprio fazer
Faço o que faço por que...
...É meu jeito mais natural
De exercer, meu mais sublime dom
Minha débil humanidade.
Poeta???
XXIII
Chapada dos veadeiros...
Pelada és linda de morrer!
Teus morros descampados
Carecas ao prazer dos ventos
Ou exibir lindas madeixas verdejantes
De verde rasteiro a tapetar-te
Ou de frondosos palmeiras a dançar
A canção das araras ao fim da tarde
Chapada dos veadeiros...
Vestida, és linda de viver
Teus brejos jorrando calmamente
O bruto pé de araticum
O vibrante sabor do pequi
A mangaba leiteira...
Murici, machadinha pucha-pucha
Lobeirais babaçú tantos mais
Eu que como-te desde o ventre
O que mais poderia cantar!
XXIV
Os que passam
Os que ficam
Os que jazem
Os que vêm
Os que olham
Os que sentem
Os presentes
Os ausentes
Somos todos nós...
Esse velho pedaço de pau
Carcomido pela fome do tempo
Consumindo num flerte manhoso
Em um simples banho em teu caldo.
XXV
Rompendo os sonhos do som
Suave qual dia bom
Assim você chegou
Fixando-se toda em mim
Eterno como o marfim
Marcante qual cicatriz
Assim sorri feliz
Mais forte que o medo em mim
Suave qual furacão
Me desarmou conquistou.
XXVI
... Metamorfose... Fiquei
Meta de mim te doei
Meu coração se abriu
Apaixonado fiquei
Rompendo os medos do som
Vencendo a fúria do vento
Reluzente doce amor
Assim... Veio esse sentimento.
XXVII
Louvável tal qual as flores
Linda como as manhãs
Láurea de meu afã
Lauto favo de amores.
Lamento que arranca o pejo
Licor de frutos amargos
Luar em lentos afagos
Lânguido alforje de beijos.
Lamento dos sem visões
Loucura dos avisados
Libido, sem mais razoes.
Lavo as mãos da doce culpa
Louco e sincero, digo...
Linda... És lua.
XXVIII
Quando teu corpo eclode
Em meu universo retinico
Tua beleza condensa-me
Aprisionando-me eu tua órbita
Sinto-me estático em meus movimentos
Amo e contemplo-te
Em doces e eternos flertes.
XXIX
Excitas-me
Inflama-me...
Meu poeta vulcão, do sono desperta
E em alucinada combustão
Vomita a poesia que extrai do teu ser
Sinto ímpetos de dizer...
Versos jamais ditos
Palavras que nunca recito...
Degustar tua essência
E fartar-me em teu abraço.
XXX
A lua cheia vem surgindo lá na serra
Iluminando e colorindo o meu sertão
A sua luz espalha vida em toda a terra
E a chapada canta de fascinação
O seu clarão traz alegria...
Agora é dia, em meu coração.
XXXI
A madrugada já vai alta
E a bela lua
Já se despede da festa pra descansar
Milhões de estrelas são fieis tiétes sua
Irão segui-la ao vê-la se retirar
Sinto um aperto em meu peito solitário
Que até hoje não provou um grande amor
Sou caipira moro aqui com meus canários
Só me entende que dessa vida provou...
Lá vem a aurora anunciando o novo dia
É fim de festa
Fim da noite enluarada
Mais uma vez se esvai a minha alegria
Volto pra lida sonhando... Com minha amada.
XXXII
Flor de outono...
Sou eu...
Nasci em pleno outono
Buscando a primavera
Provei as dores de homem
Que ao mundo dilacera
Provei o riso e o pranto
Num canto ouvi um canto
Que encanta os cantos da terra...
Falei de morte e de vida
Buscando a saciedade
Longe de minha estação...
Não tenho eu... Majestade?
XXXIII
Sentei-me num canto da vida
Sem vida ali eu vivi
Conheci ali o todo
Contemplei cada estação
Cansada e extasiada
Morri em pleno verão
Renasci em belo outono
Na semente de um botão
Toda flor é quase gente
Toda flor é mais que flor
Flor é para a primavera
Vos sois... Para o amor...
XXXIV
Ah! Quem me dera aumenos uma palavra...
Para com suave voz dilacerar o mundo
Com febril pronuncia
Intrépido lançar garganta a fora
Toda a carência incompreendida
E essa constante saudade sem razão
Mas... Não!
Nenhuma palavra se faz capaz...
Assim me faço prisioneiro
Desse sentimento que me inflama.
Basta fitar-te
XXXV
Saio de casa
E a noite ainda batalha
Na sua vã ânsia, de ver sucumbir a aurora
A festa da posse do majestoso Rei...
Já me pega a caminho do labor
Eu... Num gosto agradecido
Bestificado com seu fulgor
O reverencio pelo novo dia.
XXXVI
Esse frágil espectro
É como flor de doce aspecto
Flor de suave odor
Bela flor de raras pétalas
Sou um misto do que sonho
Sonho mole do que sou
Florescente vem a vida
A me falar de amor.
XXXVII
Seus olhos são como chuva
Falam de sonhos distantes
De indescritíveis anseios
De sonhos inquietantes
Vivendo o ser diminuto
Contempla o todo, além
Envolto em finas cortinas
Que revela... e contém.
XXXVIII
minh’alma pelos meus olhos...
Janelas desta prisão
Busca sentido pra vida
Pra vida satisfação...
Engana meu raciocínio
Seduz o meu coração
Sou cego buscando a luz
Em meio à escuridão
Sou luz em busca dos cegos...
Que cego sou então?
XXXIX
Ogivas de emoção
Explodem dentro de mim
O pensamento traiçoeiro
Viajava como menino clandestino
A sorrir...
Tremulo de medo e prazer
Metamórfico como a paisagem
Multicolorida
Sentada sobre um rochedo
Finjo ser feliz...
XL
Quero falar...
Falar de distancia
De saudade...
Quero falar!
Deixe-me falar!!!!
Falar de amor e de solidão
De chegada e de partida
Falar de sonhos e de ilusões
Que nos dilacera e nos completa.
XLI
O céu profundo
Em belo e refinado
Rajado de cores
Em tons variados desaba sobre meus olhos
Onde sou esmagado
Ao meu vil olhar
Céu e terra são um
Só meu débil ser ali comprimido
Os fazem distintos...
Com dificuldade.
XLII
Ah!
Quantas vezes meu eu repete
Para si esta pergunta?
Quanto de mim se perde por esta chapada?
Quantas dessas pedras se perdem
Dentro de mim?
E assim, a vagar pelos matos
Descalço e nu
Em manso regata.
XLIII
Nos campos da vida
Eu vivo nos campos
Entre o calor do verão
E o perfume da primavera
Sou...
Poeta inculto
Doutor sem diploma
Anseios dos vermes
Escárnio dos homens
Sendo homem não sou mais que isso
Sendo isso não sou mais que homem.
XLIV
... Audaz como um leão destemido
Fito o céu...
Que metamórfico
Se faz encantante
No singelo e perfeito
Balé das nuvens.
XLV
Sinto-me um anjo decaído
Do qual as trevas tornaram-se
Cárcere
O lacre... O alicerce!
Depravado!!!!
Desalmado...
Buscando o fruto proibido
Sinto me um cão empestado
Um anjo endiabrado
Sozinho no paraíso
Preso em meu mundo de sonhos
... Na pureza de um dia bom!
XLVI
Queria dizer-te palavras
Que te me revelariam
Que me fariam teu
Que ti me aprisionariam
Queria possuir teu corpo
Que me faz queimar por dentro
Queria aumenos um toque dos teus lábios
Que me atormentam
Queria te aumenos uma vez
Ainda que por um momento
Queria profanar teus seios
Em um desejo obsceno
Queria jamais perder-te
Queria...
Quero te!!!
XLVIII
Passa...
Por aqui tudo passa...
A saudade passa
A fé também
O namoro passa
Passa o sonho
Passa o medo e a alegria
Passa rio e o pranto
Passa a morte e a vida
O frio e o calor
A descrença e o ardor...
... Aqui tudo passa.
XLVIII
Flores...
Rosas vermelhas e brancas
Rosas flores
Flores rosa...
São tão belas que encantam
Folhas verdes e amarelas
Folhas secas
Folhas mortas
Folhas rosa
Folhas murchas...
Folhas... Rosas... Flores...
Tu te importas?
XLIX
Brisa suave soprando...
As flores do cerrado exalando
Encantam os campos da terra
Aos homens, pelos olhos cativam
Beira de rio cheiro de relva
Vida perene em águas fecundas
Saciam refrescam
Lavando a saudade do céu.
L
Ô macaco!
Macaquinho
Macacão
Voluptuoso ou sereno
Em queda ou em curso
Que magia tem suas águas?
Bicho arredio e voraz!
Quando deseja se impor
Em violêntas corredeiras.
Manso qual boi dormindo
Embaixo de um jatobá
Quando folgas em poços tranquilos
Diacho de paixão mais doida
Essa que sinto por ti.
Quatro vezes te olhei
Duas vezes em meus sonhos
Duas vezes nos teus sonhos.
Duas vezes te encontrei
Uma vez quando choravas
Uma vez quando sorrias.
Quatro vezes te toquei
Duas vezes com meus olhos
Duas vezes com as mãos
Duas vezes te amei
Uma vez com um sorriso
Uma vez com uma canção.
Quatro vezes te jurei
Duas vezes pelo céu
Duas vezes pelo sol
Duas vezes te magoei
Uma vez quando falei
Uma vez quando calei.
Quatro vezes fui feliz
Duas vezes quando te vi
Duas vezes quando te quis
Duas vezes eu chorei
Uma vez ao te beijar
Uma vez ao te amar.
Uma vez eu fui ao céu,
Quando te possui pela primeira vez
Uma vez me entreguei
Quando te encontrei
Duas vezes me arrependi,
Quando te magoei
Quando te perdi
Três vezes quis voltar
Quando te revi
Quando saudades senti
Quando só, me descobri
Quatro vezes te chamei
Todas elas quando a solidão me furtava o sono
E O coração se punha a desejar-te.
Só mais uma vez quero ser feliz...
Então volta!
Pela ultima vez!
AMOR DE MADRUGADA
Acordei-me com a canção das águas...
Era a chuva, que em rítmo suave e alternado compasso, sobre a regência do maestro vento entrava atrevidamente em forma de uma névoa gélida que me envolvia o corpo despido.
A janela aberta movida pelo vento batia alternadamente em uma ritmicidade toda peculiar. Meu coração Em festa descompassado se emocionava com a fenomenal orquestra, em quanto eu, confuso e sem direção contemplava surpreso a grande festa da natureza.
O vendaval passara...
Agora a brisa soprava com suavidade, a chuva também havia ido embora, deixando no ar um fecundo hálito de unidade.
A madrugada silenciosa cantava uma canção em tom maior, com ímpar intensidade!
O tom profundo da voz do universo cantando em silêncio, me traz recordações dóceis e uma viva impressão de que o amor me cerca.
Levanto nú e ando a pé descalço, respiro fundo enchendo-me de ar, puro e lavado pela chuva, fecho a Janela e volto ao nosso ninho...
Ali te encontro nua e adormecida com a felicidade a estampar lhe o rosto, a pele fria, pelo o abraço da brisa, o quadril semi-descoberto...
Inspira e excita, sou presa fácil do desejo que me possui
Cheio de fome e me enchendo de amor busco o teu colo para me saciar, me deleitando em teu corpo saboroso...
Estou a um passo do transbordar...
Os seus afagos me devoram todo e em ti eu me perco totalmente...
Assim, penetrado um no outro não somos mais que um num mesmo abraço!!!
O frio de outrora dá lugar ao fogo, que abrasador, envolve e nos consome.
Lentamente vou me derretendo e adentrando o teu ser inteiro possuindo-te e sendo possuído.
Bem acolhido e plenamente alimentado, me aconchego no céu de sua boca e em seu caloroso abraço envolvo-me, onde amando e sendo amado adormecemos em plena harmonia e singular felicidade.
NO CUME
Sempre gostei de montanhismo
E, sinto que no cume revelo...
Revelo o mais fundo do meu eu...
Pois no cume sinto-me vivo...
As emoções no cume transbordam...
Quando o vento no cume bate...
O cheiro intenso exala...
Cheiro de vida em transformação...
Quando o vento no cume bate...
A montanha se refresca e estremece...
Quando o vento no cume bate...
Todo o meu corpo se arrepia...
É o vigor do vento no cume batendo
E me fazendo descobrir maravilhas
Dessa vida, que vivemos
Com tanto medo e preconceito...
No cume enfio-me todo ereto e vibrante
Sem medo de gozar as emoções independentes
Do aperto e das dores que no cume pode acontecer.
Viver é um grande risco, mas quando estou no cume
Sinto-me realizado; um verdadeiro aventureiro
Nunca foge ao desafio que na planície ou na montanha,
Que em cima ou embaixo, no cume me realizo.
Kiko di Faria
NO PRECIPÍCIO
Sempre amei a depressão...
...A minha paixão precipitada.
... A minha alma em relevo.
... Feito a águia em vôos profundos.
... Em rios de cachoeiras...
...Me lanço ao precipício,
... Como fogo em erupção,
... Abrasando todo o ser.
... Minha solidão rejuvenesce.
... O precipício se abre e me penetra.
... Minha solidão rejuvenesce.
... O frenesi tornado explosão.
É a brasa do precipício queimando
E me transformando em relevo
Que é o solo eclodindo
... Com tanta dor e sofrimento.
No precipício adentro firme e pulsante
Sem medo de ejacular as paixões autônomas
Do desconserto e saliências que no precipício pode surgir.
Viver é etcetera, porém quando encasulo-me no precipício
Sinto-me completado; um inteiro alpinista
Nunca evita o perigo que na depressão ou no pico,
Que no meio ou na borda, no precipício me completo.
Di Salles
Vida Morte Sina
Dela um dia nascestes nela se fizestes, sempre a amaste nunca a possuístes
Sempre a cultivastes com amor singelo, sempre lhe negaram o pouco que exigistes
Jamais a deixaste mesmo quando ausente, eras ela em ti como és neste dia
Fê-la pão e vinho, sonho e oração, fê-la seu quinhão, sua utopia
De quanto chão precisa o homem? De quanto chão precisa o homem?
Se desfigurastes calos se fizestes, vivendo de sonhos a si consumistes
Passastes a vida por ela e sem ela, nú viestes a vida nú dela saístes
Tú que no cultivo do torrão amado, nunca teve parte nesse latifúndio
Agora repousas em suas brechas frias, mas quando finda a vida é invalor o mundo
De quanto chão precisa o homem? De quanto chão precisa o homem?
Com suor e pranto sempre a regastes, pra incônsio ganhar meio ode sombria
Com a tua vida retornando ao pó, alcanças assim a terra que querias
Essa cova inglori não lhe faz justiça, morto já não sonhas, morto já não lutas
A terra que amastes e nunca possuístes, agora a possuis de modo tão triste
De quanto chão precisa o homem? De quanto chão precisa o homem?
LONGE
Aqueles olhos negros, subpostos àquelas sobrancelhas densas e negras como a noite... Exalando saudade, lacrimejavam, ante a sua presença, que lentamente se exauria.
Aprisionada agora, dentro de mim... Amo ti interiormente e me deleito em caricias solitárias. Contudo sua física ausência castiga-me os sentidos e por isso meus olhos choram.
...Estou apaixonado... Minado ante tua beleza... Prostrado e subjugado, pelos encantos do teu ser...
Expectante aguardo ansioso o nosso reencontro...
VIOLENTO
A violência é:
A arma dos fracos
Dos covardes e ignorantes...
Será ela inerente à condição humana
ou será um construto cultural...
Inaceitável em qualquer circunstância
Evidencia o caráter, daqueles que a praticam.
O AMOR
O amor é a canção sem som
Multissonora de arranjo bom
Simples feito passar batom
Saboroso tal qual bombom
O amor é a canção cantada
Poesia mil vezes recitada
Amada e vituperada
Porem jamais desprezada
O amor é a canção sideral
Nexo do físico e o transcendental
De eterno que se faz casual
É verso e reverso afinal.
NEGRITUDE
O negro [...]
De negro semblante a viver [...]
O branco [...]
Insensível em seu negro ser [...]
O branco temendo o seu branco ser negro
O negro, ser branco
Ser gente
Ser, ser [...]
Ser negro ser branco importa si ser.
Os olhos dão conta
Da cor que o sol dá [...] mas dentro de si
Sem olhos sem sol [...]
Todo ser é negro
Todo ser negro é ser...
SONETO???
Padeço pensando em ti
Que em porto velho está
A saudade dói ao lembrar
Sinto não te-la aqui
Jovem amiga Poliana
Como marca teu sorriso
Arma de fazer amigos
Encanto que almas inflamam
Linda diva flutuante
Entre o rosa e o azul
Tem um ser multitonante
Posso dizer sem pudor
Poliana nobre plebéia
Tens encantante fulgor
ABIGAIL
Raio nascente do sol
Colorindo e aquecendo
Alegria vens trazendo
Da aurora ao arrebol
Filha prima de meu ser
Cuidados da minha vida
Doce paixão incontida
Criança meu bem querer
Síntese dos sonhos meus
Abigail meu bebê
Doce dádiva de Deus
Amor que posso tocar
Preciosidade minha
Encanta e faz pensar
DESENCONTROS
Meu amor, nesse momento estou sozinho!
A saudade invadiu meu coração
Fecho os olhos e imagino seus carinhos
Sinto o gosto do teu beijo e o toque da tua mão...
Do sofá ouço o relógio na parede e os segundos que demoram por demais.
Os meus olhos te procuram pela casa
O ar traz o seu perfume e o meu peito pede mais...
Mais uma noite com você!
Um baile, um sonho, uma canção
Felicidade outra vez, pra que viver de solidão
Mais uma vida com você
Pra ser feliz mais uma vez
Fazer amor, viver amor, sem medo
Sem culpa ou dor... Como da primeira vez.
Nosso amor é como as estações do ano
Pode passar, mas sempre volta novamente
O erro é nosso, cometemos um engano.
Mas errar é humano; comecemos conscientes...
Do passado tiramos só a lição...
Pois quem ama não pode ficar sozinho
Sei fui falto e hoje te peço teu perdão
Volta pro meu coração.
Vamos ficar bem juntinhos... “Mais uma vez...
FUEM BUÉ
Quisera, no instante da dor
No colo do cansaço
No abraço da fadiga
No acaso da vitalidade
Ébrio de sono e de sonho...
Perceber no pranto dos anjos
A poesia que dele emana
Apreciar a melodia vital
Que explicíta a vida perene
Quisera ser mais...
Animal, ser humano
Simples racional
Que na perfeita
Imperfeição de cada instante
Se exaspera e se mostra...
Frágil...
Sensível, incapaz de degustar,
Com apreço e doçura
A pueril melodia
Da canção... Bué
Fuem, bué, fuêm...
Ó vida voraz, que se
Mostra selvagem e bravia
Num simples soluçar labial.
NEGROS
Negros são almas
Negros são gente
Negro é o povo
Que sente na carne
A dor e peso
Do sonho e da busca
De seus ancestrais
Negros são povos
Que miscigenados
São multitonantes
De cútis diversa
Marcados na essência
De seu negro ser
São homens são gente
São filhos de Deus.
CÉUS
Céus...
Céus de melaço
Doce céu
Céu de chapada
Veadeiros prostrada no chão
Te chupa te come
Com as retinas decaídas
Açoitado pela chibata da saudade
Adoçam seus dias chapadeiros
Com o doce celeste na terra.
VALES
Vale...
Vale que te quero meu
Vale do sonho e do encanto
Vale do amor tenro e do pranto
Vale do negro fugido
Vale de gado e de mungido
Vale que vale uma vida
Vida... Que tu vales???
Vales, numa única vez,
Do mirante mirar... Belo vale!!!
CANTINHO
Canto de ave e de bicho
Excêntrico, caudaloso, piscoso
Avassalante capricho da natureza
Distante só sei sonhar-te
Presente não sei conter-me
Olhando-te me divido em oposto
Que te ama te quer compreender
Que te teme e se vê compreendido
Cantinho em discreto curso
Cachoeira em eterno cair
Que será das almas ingênuas
Que padecem sem uma lembrança
De teus ecos?
NOITES
Noites vindouras...
Tenebrosas aos vitimados na vida,
No afeto, no teto, na lida
Na alma, na carne, na calma
Noites de céus risonhos, em
Ocasos pluritonais... Azuis, amarelos, fogosos, cinzentos, maestrais
Tristes entardecer
Doce entardecer
Na tarde da vida, verei
E com lágrimas, então pagarei
O preço de não mais contemplar
Eh... Oh... Por do sol...!!!
SERRA... ADO
Serra... Serra cerrado adorado
Serra... E deixa o suor do seu rosto
Gerar esse rio esse poço essa queda esse olho d’agua
Serra... Serra cerrado adorado
Serra... Em toca em erva em rocha
Casebre choupana e palhoça em canto de ave e de fera
Murmúrio de vento e de...
Serra.
Serra... Que amar amante em ti
Cerrado... Amante amor em mim
Serra... Cerrado adorado
Um sonho um chão... Algo assim.
I
...essas encostas
Úmidas e bravias me falam...
Me falam num linguajar comum
Sem sons e sem palavras
Da eternidade buscada por cada um
Me falam da solidão selvagem que arde
Com suas historias e sonhos em cada relevo em cada fissura
Sim! Não sabiam que as pedras sonham?
Sonham!
Sonham tanto quanto nós
Que não as somos e nem as compreendemos
E esse rio a cair nesse balé de menino levado em que vive?
E cai! Encantando parindo esse mundo de poço
Que lava e faz leve
O velho peito do moço...
II
É um doce profano
Um sagrado vulgar
Um liquido libidinoso
Doce indecente
Rasgando o peito da gente
Lavando esse pó
Que impregnado não me deixa..
Não me deixe esquecer o que sou
Sem se quer eu saber o que eu seja
Essa água maliciosa
Que jorra das brechas de terra
E com seu doce escraviza o vivente.
III
É um rio descendo
Ou um poço subindo?
São as pedras gemendo
Ou mato sorrindo?
É um canto bravio...
De poço e de pedra
De bicho de mato
De gente...
E, de rio!
IV
Essa arte da terra
De cera de serra
De pau e de pó
De cheiro e de cor
De toque e sabor
É um pau sobre o chão
De chapéu sob o peito
Descalço e pelado
À sombra da vida.
V
Essa pedra é minha mãe
Esse rio sou eu
Esse tronco caído
Esse salão proibido...
... Panteão dos ratos alados!
Essa paisagem crua
Fermentada no ventre da serra...
É ela a mãe da discrição!
O ninho dos segredos
O berço da inquietante paz.
VI
Menina pelada
Sem cílios nem sobrancelha
Exposta ao céu
Chorando ao mendigar o abraço do vento
O lamento doa pássaros...
Alva como a neve
Se aqui não neva como em Paris...
Se eleva feliz
A esbanjar-se num pendão verde
Nívea menina.
VII
Essa rosa alada pintando a imensidão
É a poeira do céu
Cavalgando os últimos raios
Que por esmola o sol nos manda
É assim...
Que nasce esse céu profundo
Misto de terra e de mel
Encanto que aprisiona o olhar...
O divino sem regra e sem véu.
VIII
Ao ver a solidão em seus olhos
Fito esse jeito mateiro...
Que é teu
Teus abanos
Te levando a planar
Teu escopo... a vida!
Teu morar por um instante vadio
De um graveto a bailar no vazio.
IX
Vestindo veludo
No talo e na folha
Esbanjas as cores com que o rei te brindou
Garganta aos berros
Oferta tua língua rosada
A verter uma muda e provocante poesia
Que faz da abelha ao colibri
Hospede do teu néctar.
X
Eis a cor da paixão
Eis um céu apaixonado
Um orgasmo
De olhos calados
Que pulsam ao sabor do teus tons.
XII
Esse meu pé
Exposto
Em pedra
Em lama
Em toco
Em cachoeira cantando
O verde das matas ciliares
O amarelo do rei em céu desnudo
É pé...
É pedra...
É serra...
É água...
É só pé de serra!
XIII
Se um dia eu pudesse ser
Mais que esse simples ser
Queria ser assim
Como tu borboletinha
A botar minhas esperanças
Na natureza palpável...
Nesse cerrado
Quente multicolorido
Vestindo flores
Parindo frutos
Salivando vida
Enfeitando o luto das noites
Pintadas de prata pela lua
Quisera eu
Ser...
E ao menos brevemente
Poder ter
Um fio de teu encanto borboletar.
XIV
Se possível for
De algum modo encontrar
O belo no colo do feio
Chamar te ia monstro
Monstro a vicejar
Uma beleza bruta
Intensa e tão serena capaz de perturbar
Assim se faz
Abelha amarela de olhos arregalados
E língua exposta a ofertar seu suco.
XV
Aqui vou eu
Em passo de lesma
Comendo migalhas
Sonhando com o céu
Que o criador aprisionou em meu futuro...
... em meu casulo!
Mas eu chego lá!
E quando eu chegar
Serei mais que sou
Com mais encanto mais fulgor
Serei sempre eu...
Mas como prêmio ganharei
Mais carinho
Mais amor
E...
Enfim o céu.
XVI
Dama das tocas
De capacete reluzente
E armadura em escamas
Em seus olhos o veneno
Ou seria o mel?
Ao ver te me parto
Bipartido não sou mais
Que verdugo e amante.
XVII
Sou eu esse ai...
Consegues ver me?
E a ti em mim e ao meu lado?
Somos nós!
A nos lavarmos nesse mar celestial.
XVIII
A lisonja dos teus lábios
É o tormento dos meus olhos...
Quero beijar-te com avidez
E beber a luxuria em tua boca
Seu louro manhoso
De dama do cerrado
É a malícia
Que malha meu peito
Gestando por ti dentro em mim
O mais enganoso amor...
Amor que será lágrima
Quando prantearei teu fenecer.
XIX
Como água pisando em cinzas
Quando em fumo o vapor faz subir
Faz do céu formigueiro
Um espanto!
E as formigas parar e sorrir
Sou assim
Sob o relho do teu encanto
Formiguinha a vibrar ao te ver
Somos nós
Tão vulgares e sensíveis
Ou és tu
Céu lindo de morrer?
XX
Sem teto não posso ser
Tenho o cosmos pra morar
A terra dos homens cansada
O parco pão a me dar
A sombra
De um pau sem encanto
Desse cerrado marginal
Vitimado pelo lucro
Que em seu sulco se faz
Capital
Mas,
Graças a quem assim me quis
Não sou triste e nem feliz
Sou um misto de riso e pranto
Só tenho um ninho...
...e meu canto...
XXI
Meus dias são isso que vês
Pele rasgada em rugas,
E vida sangrando delas!
Tal qual águas no seio das grotas
Dessa chapada imortal.
... Um pingo de vaidade,
Pra ornar meu corpo frágil
E marcar a alegria própria
De minh’alma negra...
Meus lábios murchos... São rosa
Fenecidas nos braços do tempo...
Contudo não se engane, moço!
Sou vida voraz aqui dentro.
XXII
Não faço o que faço
A mendigar recompensa
Elogio o xingo...
Não faço o que faço
Por que achas belo
Ou ele acha feio...
As palavras são meu sangue...
Minh’alma minha essência
Chame-me poeta, louco...
Como queira...
Não faço o que faço
A calcar recompensa!
Minha recompensa é o próprio fazer
Faço o que faço por que...
...É meu jeito mais natural
De exercer, meu mais sublime dom
Minha débil humanidade.
Poeta???
XXIII
Chapada dos veadeiros...
Pelada és linda de morrer!
Teus morros descampados
Carecas ao prazer dos ventos
Ou exibir lindas madeixas verdejantes
De verde rasteiro a tapetar-te
Ou de frondosos palmeiras a dançar
A canção das araras ao fim da tarde
Chapada dos veadeiros...
Vestida, és linda de viver
Teus brejos jorrando calmamente
O bruto pé de araticum
O vibrante sabor do pequi
A mangaba leiteira...
Murici, machadinha pucha-pucha
Lobeirais babaçú tantos mais
Eu que como-te desde o ventre
O que mais poderia cantar!
XXIV
Os que passam
Os que ficam
Os que jazem
Os que vêm
Os que olham
Os que sentem
Os presentes
Os ausentes
Somos todos nós...
Esse velho pedaço de pau
Carcomido pela fome do tempo
Consumindo num flerte manhoso
Em um simples banho em teu caldo.
XXV
Rompendo os sonhos do som
Suave qual dia bom
Assim você chegou
Fixando-se toda em mim
Eterno como o marfim
Marcante qual cicatriz
Assim sorri feliz
Mais forte que o medo em mim
Suave qual furacão
Me desarmou conquistou.
XXVI
... Metamorfose... Fiquei
Meta de mim te doei
Meu coração se abriu
Apaixonado fiquei
Rompendo os medos do som
Vencendo a fúria do vento
Reluzente doce amor
Assim... Veio esse sentimento.
XXVII
Louvável tal qual as flores
Linda como as manhãs
Láurea de meu afã
Lauto favo de amores.
Lamento que arranca o pejo
Licor de frutos amargos
Luar em lentos afagos
Lânguido alforje de beijos.
Lamento dos sem visões
Loucura dos avisados
Libido, sem mais razoes.
Lavo as mãos da doce culpa
Louco e sincero, digo...
Linda... És lua.
XXVIII
Quando teu corpo eclode
Em meu universo retinico
Tua beleza condensa-me
Aprisionando-me eu tua órbita
Sinto-me estático em meus movimentos
Amo e contemplo-te
Em doces e eternos flertes.
XXIX
Excitas-me
Inflama-me...
Meu poeta vulcão, do sono desperta
E em alucinada combustão
Vomita a poesia que extrai do teu ser
Sinto ímpetos de dizer...
Versos jamais ditos
Palavras que nunca recito...
Degustar tua essência
E fartar-me em teu abraço.
XXX
A lua cheia vem surgindo lá na serra
Iluminando e colorindo o meu sertão
A sua luz espalha vida em toda a terra
E a chapada canta de fascinação
O seu clarão traz alegria...
Agora é dia, em meu coração.
XXXI
A madrugada já vai alta
E a bela lua
Já se despede da festa pra descansar
Milhões de estrelas são fieis tiétes sua
Irão segui-la ao vê-la se retirar
Sinto um aperto em meu peito solitário
Que até hoje não provou um grande amor
Sou caipira moro aqui com meus canários
Só me entende que dessa vida provou...
Lá vem a aurora anunciando o novo dia
É fim de festa
Fim da noite enluarada
Mais uma vez se esvai a minha alegria
Volto pra lida sonhando... Com minha amada.
XXXII
Flor de outono...
Sou eu...
Nasci em pleno outono
Buscando a primavera
Provei as dores de homem
Que ao mundo dilacera
Provei o riso e o pranto
Num canto ouvi um canto
Que encanta os cantos da terra...
Falei de morte e de vida
Buscando a saciedade
Longe de minha estação...
Não tenho eu... Majestade?
XXXIII
Sentei-me num canto da vida
Sem vida ali eu vivi
Conheci ali o todo
Contemplei cada estação
Cansada e extasiada
Morri em pleno verão
Renasci em belo outono
Na semente de um botão
Toda flor é quase gente
Toda flor é mais que flor
Flor é para a primavera
Vos sois... Para o amor...
XXXIV
Ah! Quem me dera aumenos uma palavra...
Para com suave voz dilacerar o mundo
Com febril pronuncia
Intrépido lançar garganta a fora
Toda a carência incompreendida
E essa constante saudade sem razão
Mas... Não!
Nenhuma palavra se faz capaz...
Assim me faço prisioneiro
Desse sentimento que me inflama.
Basta fitar-te
XXXV
Saio de casa
E a noite ainda batalha
Na sua vã ânsia, de ver sucumbir a aurora
A festa da posse do majestoso Rei...
Já me pega a caminho do labor
Eu... Num gosto agradecido
Bestificado com seu fulgor
O reverencio pelo novo dia.
XXXVI
Esse frágil espectro
É como flor de doce aspecto
Flor de suave odor
Bela flor de raras pétalas
Sou um misto do que sonho
Sonho mole do que sou
Florescente vem a vida
A me falar de amor.
XXXVII
Seus olhos são como chuva
Falam de sonhos distantes
De indescritíveis anseios
De sonhos inquietantes
Vivendo o ser diminuto
Contempla o todo, além
Envolto em finas cortinas
Que revela... e contém.
XXXVIII
minh’alma pelos meus olhos...
Janelas desta prisão
Busca sentido pra vida
Pra vida satisfação...
Engana meu raciocínio
Seduz o meu coração
Sou cego buscando a luz
Em meio à escuridão
Sou luz em busca dos cegos...
Que cego sou então?
XXXIX
Ogivas de emoção
Explodem dentro de mim
O pensamento traiçoeiro
Viajava como menino clandestino
A sorrir...
Tremulo de medo e prazer
Metamórfico como a paisagem
Multicolorida
Sentada sobre um rochedo
Finjo ser feliz...
XL
Quero falar...
Falar de distancia
De saudade...
Quero falar!
Deixe-me falar!!!!
Falar de amor e de solidão
De chegada e de partida
Falar de sonhos e de ilusões
Que nos dilacera e nos completa.
XLI
O céu profundo
Em belo e refinado
Rajado de cores
Em tons variados desaba sobre meus olhos
Onde sou esmagado
Ao meu vil olhar
Céu e terra são um
Só meu débil ser ali comprimido
Os fazem distintos...
Com dificuldade.
XLII
Ah!
Quantas vezes meu eu repete
Para si esta pergunta?
Quanto de mim se perde por esta chapada?
Quantas dessas pedras se perdem
Dentro de mim?
E assim, a vagar pelos matos
Descalço e nu
Em manso regata.
XLIII
Nos campos da vida
Eu vivo nos campos
Entre o calor do verão
E o perfume da primavera
Sou...
Poeta inculto
Doutor sem diploma
Anseios dos vermes
Escárnio dos homens
Sendo homem não sou mais que isso
Sendo isso não sou mais que homem.
XLIV
... Audaz como um leão destemido
Fito o céu...
Que metamórfico
Se faz encantante
No singelo e perfeito
Balé das nuvens.
XLV
Sinto-me um anjo decaído
Do qual as trevas tornaram-se
Cárcere
O lacre... O alicerce!
Depravado!!!!
Desalmado...
Buscando o fruto proibido
Sinto me um cão empestado
Um anjo endiabrado
Sozinho no paraíso
Preso em meu mundo de sonhos
... Na pureza de um dia bom!
XLVI
Queria dizer-te palavras
Que te me revelariam
Que me fariam teu
Que ti me aprisionariam
Queria possuir teu corpo
Que me faz queimar por dentro
Queria aumenos um toque dos teus lábios
Que me atormentam
Queria te aumenos uma vez
Ainda que por um momento
Queria profanar teus seios
Em um desejo obsceno
Queria jamais perder-te
Queria...
Quero te!!!
XLVIII
Passa...
Por aqui tudo passa...
A saudade passa
A fé também
O namoro passa
Passa o sonho
Passa o medo e a alegria
Passa rio e o pranto
Passa a morte e a vida
O frio e o calor
A descrença e o ardor...
... Aqui tudo passa.
XLVIII
Flores...
Rosas vermelhas e brancas
Rosas flores
Flores rosa...
São tão belas que encantam
Folhas verdes e amarelas
Folhas secas
Folhas mortas
Folhas rosa
Folhas murchas...
Folhas... Rosas... Flores...
Tu te importas?
XLIX
Brisa suave soprando...
As flores do cerrado exalando
Encantam os campos da terra
Aos homens, pelos olhos cativam
Beira de rio cheiro de relva
Vida perene em águas fecundas
Saciam refrescam
Lavando a saudade do céu.
L
Ô macaco!
Macaquinho
Macacão
Voluptuoso ou sereno
Em queda ou em curso
Que magia tem suas águas?
Bicho arredio e voraz!
Quando deseja se impor
Em violêntas corredeiras.
Manso qual boi dormindo
Embaixo de um jatobá
Quando folgas em poços tranquilos
Diacho de paixão mais doida
Essa que sinto por ti.