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O PARTO

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O PARTO Ai, ai, ai! Como dói minha iscadeira! Essa minha cacunda cansada, de doer inda me mata! Maria Tomásia se levanta do rancho e manquejando e balbuciando lamentos se dirige ao rêgo d'água, pamode lavar os últimos pano que o menino tá chegando. Pelas dores que vem sentido e o tamanho do bucho, ela sabe pela experiência de outros sete partos, que sua hora não demora. Quando a noite cai e o céu de estrelas se decora, as dores chegam ao seu liminar e Maria Tomásia sabe que é hora da grande hora. Assim, entre uma contração e outra manda seu primogênito Pelágio ir à casa da vizinha, chamar dona Davina, parteira e comadre sua. Deveras,  acertado tudo já  estava, desde a semana passada, quando as dores primeiras de parir sutilmente já se anunciavam. Foi na reza de dona Davina, ela que era devota de Nossa Senhora do Livramento, enquanto amassava o "rosado e a brevidade", biscoitos caseiros à  base de goma de mandioca, que dona Davina não gostava de deixar faltar na

Caído

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No chão da vida me encontro, Remoendo todos os meus feitos, Soterrado em meio aos escombros, Desse mundo de seres imperfeitos; Dos amores que tive, que vivi, Das sementes que na vida plantei, Lindos frutos em filhas colhi, Muitos sonhos com lágrimas teguei; E o tempo menino apressado, Todo afoito a seguir o caminho, Devorou quinze anos calcados, A pés descalço com afeto e carinho; Fiz história, estorias contei, Eu rezei, eu cantei a pregar, Em aprender muito me empenhei, Para poder melhor servir e amar; Me fiz servo,  amigo e irmão, Me fiz ombro, coração e ouvidos Me doei, ofertei minhas mãos, Acolhendo o que tinha caído; Me fiz punho, me fiz braço e voz, Fui à luta e simplesmente lutei, Pouco a pouco fui deixado a sós, Justamente por quem eu lutei; Ressequido, sufocado e perdido, Vi raiar o louco sol da paixão, Que voraz devorou -me o juizo Destruindo o meu fio da razão; E nos olhos da mais bela flor, Pelo amor fui então encontrado, Sem tocá-

Soneto em Acróstico

F azer sua história, seguir seu caminho, E mpenhando-se em viver, vivo estando, L utar com amor, fazer tudo com carinho, I luminando-se, caindo ou se levantando. Z ombando dos males e perigos da jornada, A rmando-se de sorriso, amor e compaixão, N a certeza de que só o amor e mais nada, I lumina e vence, nossa sombra e escuridão. V ivendo é aprendiz, ensinando o que aprendeu, E nquanto inquieto e ávido procura transcender, R umo àquele, que de puro amor, um dia o teceu. S egue seus sonhos e os desejos do coração seu, Á vido do céu, segue se doando a se enternecer, R enascendo das trevas, para a luz  do amor Deus. I nspirado pelo amor segue vencendo a compreender, que no caminho é preciso, que se... O re, vigie e ame... Siga, sendo e aceitando o que se é, buscando ser, o ser que se sonha ser. Amando, amando, amando... E assim, pelo amor ir se transformando.

Quando Caímos

Aquiete-se e tenha fé, por acaso, acredite nada é, Cada um é aquilo que é, vivendo conforme  acredita, Cada um sofre as dores que na vida tem que viver, Suportando pela vida, o conjunto de suas desditas. Só quem sofre os tormentos e os espinhos das dores, Só quem suporta o peso que tem a sua pesada cruz, Sabe onde o sapato aperta, onde mora seus dissabores, Sente as trevas que insistentemente atenta contra sua luz. Por isso mesmo limite-se a amar e nunca se apresse em julgar, Se coloque no lugar do outro e tente suas dores entender, E verás que as vezes a loucura e a morte, nos parecem ser solução. E já cegos de medo e de dor, desistimos sem forças pra esperar, E então  não  suportando o fardo, sufocados de tanto sofrer, Desistimos de tudo e falidos caímos, suplicante pela compaixão.